quinta-feira, 30 de abril de 2015

Que grilo é esse?




Rafa Bittencourt e Lorhama Barbosa

Usando-se de uma caixa de ferro ou madeira, alguns grilos e um documento de posse de terra fraudado, após algumas semanas, com a ação dos dejetos dos grilos e também do consumo que os mesmos faziam do papel, era possível produzir um documento amarelado e corroído falsamente pelo tempo. Era desta maneira quase ingênua que se iniciou no século XIX a prática de falsificação de documentos de posses de terras no Brasil, conhecida como grilagem, ocasionando prejuízo para a União e também para proprietários que tiveram suas terras ocupadas indevidamente.
Após a independência do país e o fim das sesmarias, houve uma proliferação de famílias possuidoras de pequenas glebas de terras que as usavam para sustento próprio e para o abastecimento de algumas cidades. Após isso houve o surgimento dos grileiros, que fraudavam os títulos de posses para expulsar os posseiros e formar, desta maneira, imensas propriedades.
A Lei de Terras surgiu em 1850 para tentar combater a prática constante de grilagem que ocorria no país, ela tratava de impedir a ocupação de áreas devolutas e determinava que a terra só poderia ser vendida pelo Governo em grandes lotes e mediante pagamento em dinheiro; certamente que este caminho adotado pelo Brasil na época foi bastante oposto se comparado ao adotado pelos Estados Unidos, que em sua Lei de Gleba de 1862 determinava a distribuição de lotes familiares com área prevista em lei que eram impostos àqueles que pudessem cultivar nestes. Isso acabou por influenciar um espírito de democratização da propriedade, o mercado interno, mecanização e o dinamismo econômico que são apreciados até hoje.
Atualmente no Brasil algo em torno de 100 milhões de hectares está sob a suspeita de serem grilados. Na região norte, mais especificamente Amazonas, Pará e Amapá, o número de cadastros cancelados pelo INCRA é de:
AMAPÁ                                                     813.978 ha
PARÁ                                                       20.817.483 ha
AMAZÔNAS                                             22.779.586 ha

A grilagem acontece em todo o país, mas com o enfoque nas regiões citadas, podemos expor alguns casos bastante conhecidos:
 No Amazonas, 55 milhões de hectares estão sob a suspeita de terem seus registros fraudados. Dezoito milhões desses registros já foram cancelados.
No Pará, nove milhões de hectares foram descobertos apenas em nome de Carlos Medeiros, que era uma pessoa fictícia criada pelos portugueses Manoel Joaquim Pereira e Manoel Fernandes de Souza.
No Amapá, por sua vez, 65.793 hectares de terras constituem apenas a área da Fazenda Itapoã, que originalmente sequer possuía 10.000 hectares.
Estes são alguns dos muitos casos no Estado sobre a prática, atualmente o perfil dos praticantes deste crime tem mudado, já não são as grandes empresas estrangeiras que se apossam de terras públicas, mas sim grandes empresários do ramo agropecuário que atuam dentro do Brasil.
Atualmente, a CPT (Comissão Pastoral da Terra) é quem atua dentro do Estado do Amapá em combate contra as práticas de grilagem e tantas outras contra os homens do campo. A equipe da Pastoral sofre atualmente com a escassez de recursos financeiros e de apoio voluntário. O padre Cisto Magro, que representa a CPT no Estado, explica um pouco sobre como funciona o trabalho da Pastoral em relação aos pequenos proprietários que sofrem com as práticas de grilagem no Amapá:
“O pequeno agricultor de uma hora para outra é atingido por uma liminar de despejo e não sabe nem o que está acontecendo”. Ele continua: “Nosso pequeno agricultor se encontra exposto a estas ordens de despejo, então eles nos procuram e nós oferecemos orientação jurídica, levamos até a defensoria agrária e vemos o que pode ser feito para tentar salvar esses trabalhadores do campo”.
O Amapá encontra-se como uma nova vítima de grilagem no Brasil, apesar de já acontecer a muito tempo, o Estado vem ganhando um novo olhar daqueles que realizam a prática, atraindo estes empresários e empresas com suas terras sem títulos e uma política de facilitação de sua estadia aqui.

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