quinta-feira, 19 de maio de 2016

JORNAL AP HOJE 19 05 16

MARIA VEIO DOBRAR MINHA RAZÃO AO SEU AMOR MATERNO

Maria veio dobrar minha razão ao seu amor materno

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Hoje, dia 28 de abril, a Igreja celebra São Luís Maria Grignion de Montfort. Esse santo é conhecido por sua grande devoção à Virgem Maria, o que o levou a fundar a Companhia de Maria e a escrever o preciosíssimo Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. No dia de sua memória litúrgica e também de sua páscoa, é impossível não lembrar da consagração a Jesus por meio de Maria, proposta pelo Tratado.
A primeira vez que ouvi falar do Tratado foi no meu postulantado na Comunidade de Vida da Comunidade Católica Shalom (postulantado é o primeiro ano de experiência na Comunidade Shalom). Minha vida de fé, muito racional e pouco humilde, não conseguia ainda acolher esse convite de Nossa Senhora. Rezava o terço como grande auxílio para viver bem dia a dia os desafios da vida missionária. Mas foi no meu discipulado (logo após o postulantado, é o ano formativo na Comunidade) que Maria veio dobrar minha razão ao seu amor materno.
Logo que cheguei ao discipulado, deparei-me com a história de vida de Padre Pio. Era um absurdo, para mim, conceber uma vida tão extraordinária, cheia de grandes feitos de Deus. Vi que a vida do padre santo estava intimamente ligada à sua devoção à Virgem Maria, através, principalmente, da recitação constante do Santo Rosário. Minha cabeça racional logo deixou de lado a vida de Padre Pio e a devoção à Virgem. Era fé demais pra mim…
Coloquei Maria à prova, e pedi-lhe que me desse um sinal concreto de que a consagração pelo Tratado seria vontade de Deus para mim. Mas Nossa Senhora não tardaria em revelar seu cuidado por mim, por minha salvação. Três acontecimentos abriram meu coração. No dia do retiro pessoal para a missa de ingresso, diante do ícone da Porta do Céu, em um dos jardins no discipulado, ao olhar para baixo, encontro, entre a grama, uma medalha de Nossa Senhora. Foi surpresa maior quando verifiquei que do lado oposto da medalha havia a imagem de São Padre Pio. Surpreendida pelo acontecimento, minha pouca fé explica o ocorrido com meras e infinitas possibilidades do mundo das coincidências. Não falei com ninguém sobre a medalha.
O segundo acontecimento deu-se em um dia de faxina, quando tirei da cama o colchão para pegar um pouco de luz solar. Antes de colocá-lo no chão, varri com bastante atenção o local, para que ficasse bem limpo e não sujasse muito o colchão. Ao final da faxina, fui colocar o colchão de volta na cama e, ao levantá-lo, brilhou em cor de prata uma medalha de Nossa Senhora, exatamente no meio do espaço onde ele tinha ficado a tarde inteira. Para minha surpresa ainda maior, o lado oposto da medalha trazia a imagem de Padre Pio. Mais uma vez: “Foi mera coincidência!”.
Alguns dias depois, recebo uma carta da minha irmã dizendo-se feliz pelo meu ingresso no discipulado. Ela contava que estava rezando por mim, intercedendo junto à Virgem Maria por minha vocação, e mandava dentro do envelope uma pequena lembrança: uma medalha de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Para minha surpresa, sim, do lado oposto estava a imagem de Padre Pio.
Você diria que três acontecimentos desse tipo ainda podem ser pura coincidência. Concordo. Foi isso que eu também pensei! Esses pequenos sinais não me convenceram a viver a consagração a Jesus pelo Tratado da Verdadeira Devoção à Virgem Maria. O motivo poderia ser um coração duro ou medo de me comprometer, ou só burrice mesmo. O fato foi que, não com pouco atrevimento, disse à Nossa Senhora que, se realmente era vontade de Nosso Senhor Jesus Cristo que eu fizesse a consagração para ser escravo Dele, por meio de suas mãos maternas, ela me desse um sinal definitivo.
Eu disse também à Virgem Maria que, por afinidade, admiração, e besteira minha também, eu só me consagraria a ela se fosse no dia de sua aparição em Guadalupe no México, 12 de dezembro. Disse que se aquela era mesma a vontade de Nosso Senhor, que ela me desse um sinal de sua parte, que acontecesse exatamente há 33 dias do dia da aparição. E a Virgem Maria, pobre, humilde, dignou-se a atender esse capricho.
Em um domingo, eu observava à grande distância uma conversa acalorada, quando minha amiga Germana me chamou atenção sobre o que Nalvinha, que visitava nossa casa, estava dizendo, e a fez repetir em alta voz, até ser ouvida onde eu estava: “O inferno inteiro se levanta para que aqueles que Nossa Senhora chama não se façam escravos do Senhor por meio de Maria”. A frase bateu fundo no coração há exatos 33 dias antes do dia 12 de dezembro, o número de dias necessários para fazer a preparação segundo o Tratado.
Decidi, então, fazer a preparação. Mas no auge da arrogância e do atrevimento, pedi ainda à Virgem Maria que em 12 de dezembro, dia de sua aparição em Guadalupe, desse-me uma experiência com a Santa Eucaristia, para conhecer melhor Aquele de quem me tornaria escravo para sempre, e como sinal concreto de que Ele aceitara minha oferta. E assim aconteceu. Tive uma grande experiência com a Santa Eucaristia, com Jesus que se ofertava em serviço. A partir de então, vivo minha servidão incondicional a Jesus, por meio de Maria, esforçando-me para recitar sempre o Santo Rosário, mas principalmente, durante a Santa Comunhão na missa, pedindo emprestado o coração humilde de Maria, para que Jesus seja recebido em mim de forma digna, e que eu possa contemplar o encontro entre Ele e Maria, e nessa contemplação tenha meu coração transformado.
Espero que o seu coração não seja tão resistente quanto o meu, e que você procure conhecer melhor a consagração a Jesus por meio de Maria, que Deus nos concedeu como presente pelas mãos de São Luís Grignion de Montfort. Dedique um tempo à Virgem Maria, por mais curto ou simples que seja. Ela sempre vai acolher, seu coração é pobre e, como mãe, está sempre a nos receber. Do pouco, ela fará muito.
São Luís Grignion de Montfort, intercedei por nós!
Virgem Santíssima, rogai por nós!

Eduardo Martins
missionário da Comunidade Católica Shalom

É PENTECOSTES OUTRA VEZ E SEMPRE

É Pentecostes na Igreja, é Pentecostes na vida de cada cristão

Reflexão de Dom Alberto Taveira Corrêa, arcebispo Metropolitano de Belém do Pará
16hO Tempo Pascal chega ao seu auge, com o grande presente do Ressuscitado, o derramamento do Espírito Santo prometido, na saída da Igreja à vida pública! Do lado de Cristo na Cruz brotou a vida da Igreja, na fonte dos sacramentos do Batismo e da Eucaristia, água e sangue que jorram do lado do Salvador. E ele “entregou o Espírito”, fazendo dom daquele que é o sopro da vida. Após a Ressurreição o mesmo Senhor, mostrando as marcas da Paixão, apareceu a seus discípulos, trazendo-lhes o dom da paz, a missão da reconciliação, quando soprou com hálito santo sobre eles o Espírito Santo. É o mesmo Espírito que pairava sobre as águas, na criação do mundo, o Espírito que falou pelos profetas, o Espírito que estava sobre Jesus em sua missão inaugurada na Sinagoga de Nazaré. Agora o Espírito Santo é dado para o tempo da Igreja, que se estende até a vinda do Senhor, no fim dos tempos! É Pentecostes na Igreja, é Pentecostes na vida de cada cristão, é Pentecostes no zelo apostólico que anima a Evangelização! Vinde Espírito Santo!
A Igreja reza e canta assim no Pentecostes: “Espírito de Deus, enviai dos Céus um raio de luz!”. O Espírito Santo é luz que ilumina os corações e a estrada da fidelidade a Deus. “Enchei, luz bendita, chama que crepita, o íntimo de nós! Sem a luz que acode, nada o homem pode, nenhum bem há nele”. A luz do Espírito invade todos os espaços de escuridão, todos os recantos tramados pelo pecado, o fingimento, a mentira, a impureza, tudo o que se desfaz diante da luz que vem do Céu! Esta luz queima para purificar, cauterizando as raízes da maldade que se espalha no mundo, todas as feridas deixadas pelo tempo e pela iniquidade das pessoas humanas. “Espírito de Deus, enviai dos Céus um raio de luz!”
“Vinde, Pai dos pobres, dai aos corações vossos sete dons”. Somos homens e mulheres carentes dos dons do Espírito Santo, esmolando na oração confiante! O dom da Sabedoria, para degustar o sentido da vida e dos acontecimentos segundo Deus; o dom do Entendimento, para sermos apaixonados pela verdade; o dom da Ciência, para conhecer as realidades humanas de acordo com o plano de Deus e não transformar nosso mundo num deserto estéril; o dom do Conselho, para buscar na Escritura, na palavra das pessoas maduras em Deus e na inspiração segura do Espírito, o modo correto para tomar decisões e agir com retidão; o dom da Fortaleza, para sermos socorridos em nossa fragilidade e falta de coragem, assim como a força para controlarmos nossos impulsos e nosso temperamento; o dom da Piedade, a graça de ter um coração bom, que ame a Deus, o próximo, a comunidade e a pátria; o dom do temor de Deus, que dá a certeza de que nunca estamos sozinhos, mas acompanhados pelo Senhor, e nos ajuda a levar Deus em conta em todos os passos que damos na vida. “Vinde, Pai dos pobres, dai aos corações vossos sete dons”
“Consolo que acalma, hóspede da alma, doce alívio, vinde!” O Espírito Santo é chamado consolador. Ele que abranda nossas inquietações, exageros, radicalismos desatinados, quando queremos jogar tudo pelos ares! Vinde habitar em nossos corações, Espírito Santo, ocupai todos os espaços de nossa alma. Esvaziai de todo entulho o nosso interior, Vinde aliviar as dores e as inseguranças que nos assaltam! “Consolo que acalma, hóspede da alma, doce alívio, vinde!”
“No labor descanso, na aflição remanso, no calor aragem.” Nossa vocação é trabalhar este mundo de Deus, com o suor de nosso rosto e a dedicação de nossa inteligência. Sabemos que o descanso verdadeiro e salutar de todas as nossas fadigas só se encontra no Senhor, que envia seu Espírito. Este Espírito vem ao encontro de nossas muitas aflições, como o remanso cheio de quietude das águas que correm, ou como a brisa que lava nosso rosto com delicadeza. Precisamos urgentemente dessa presença do Espírito Santo, “no labor descanso, na aflição remanso, no calor aragem”.
“Ao sujo lavai, ao seco regai, curai o doente.” O Pai de misericórdia, pela morte e ressurreição de seu Filho, reconciliou o mundo consigo e enviou o Espírito Santo para remissão dos pecados, nos concede, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz (Cf. Fórmula da Absolvição no Rito da Penitência). É a graça da reconciliação e do perdão dos pecados que clamamos quando pedimos que nossas sujeiras interiores sejam lavadas! E a secura interior e exterior é umedecida com a água bendita do Espírito. Este Espírito é dado para curar nossa humanidade ferida. Peçamos: “Ao sujo lavai, ao seco regai, curai o doente”.
“Dobrai o que é duro, guiai no escuro, o frio aquecei.” O primeiro coração endurecido é o meu, não tanto os corações dos outros. Que nenhuma dureza, escuridão ou frieza resistam à ação do Espírito Santo de Deus! É tempo de acolher o sopro do Ressuscitado que dá o Espírito Santo a todos os fiéis e destrói com o fogo do amor todas as barreiras, abre portas e descortina os horizontes para que o Evangelho penetre em todas as realidades humanas! “Dobrai o que é duro, guiai no escuro, o frio aquecei”.
“Dai à vossa Igreja, que espera e deseja, vossos sete dons.” É a Igreja que reza confiante, impulsionada pela recomendação do Senhor Jesus, pois ela e a humanidade necessitam com urgência o sopro dos sete dons do Espírito Santo! “Dai à vossa Igreja, que espera e deseja, vossos sete dons”.
“Dai em prêmio ao forte, uma santa morte, alegria eterna.” Nossa estrada nesta terra terá seu final lá na casa do Pai. Passaremos pelos umbrais da morte, nossa Páscoa pessoal e definitiva, para contemplar sem véus as realidades eternas. Nossa vida na terra seja uma santa viagem, a belíssima aventura, para a entrega que esperamos aconteça com uma santa morte. Se pequenos e fracos, somos fortes do Senhor e podemos dizer: “Dai em prêmio ao forte, uma santa morte, alegria eterna”.

sábado, 7 de maio de 2016

SEMANA NACIONAL DA FAMÍLIA 2016

Comissão Nacional apresenta oficialmente “Hora da Família” 2016

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Hora da Família 2016A Comissão Nacional da Pastoral Familiar (CNPF) e Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da CNBB apresentam a edição 2016 do subsídio "Hora da Família", disponível para aquisição na Loja Virtual da Pastoral Familiar, com preço exclusivo. Adquira agora!
Com o tema "Misericórdia na Família: Dom e Missão", o subsídio oferece sete encontros, além de celebrações como Via-Sacra em família, celebração para o Dia dos Pais, Dia dos Avós e Dia das Mães.
Com uma proposta moderna e explicativa, o material é organizado de forma interativa, propondo encontros participativos e celebrativos, buscando envolver a comunidade, famílias, lideranças, crianças, jovens e adultos.
"O 'Hora da Família', neste ano, quer nos envolver nesse clima da misericórdia divina, com vistas à missão. Não pode ficar unicamente entre os grupos de Pastoral Familiar. A nossa criatividade pastoral deve nos inspirar para que esse conteúdo seja partilhado, multiplicado, servido, também, em muitos outros ambientes onde nem sempre a Palavra está presente: escolas, centros de saúde, meios de comunicação, prédios, associações de moradores, periferias", sugere o bispo de Osasco (SP) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da CNBB, dom João Bosco Barbosa.
O assessor nacional da Comissão para a Vida e a Família, padre Moacir Arantes, orienta que as equipes da Pastoral Familiar e agentes repassagem o "Hora da Família" 2016, com o valor de venda indicado de R$ 3,00. Desta forma, o material chegará a muitas famílias por um preço acessível, gerando assim um amplo processo de evangelização neste Ano da Misericórdia.
Para padre Moacir, o "Hora da Família" quer ajudar a todos a fazerem a experiência com a misericórdia de Deus. "Este subsídio precioso de estudo, reflexão e oração, nos convida a realizar nos grupos pastorais, de vizinhos, de amigos, ou na intimidade do nosso lar, importante reflexão a respeito das obras de misericórdia. Queremos conhecer um pouco melhor o jeito de Deus ser e agir com seus filhos e filhas, para que possamos transformar o nosso ser e nosso agir para com os outros", explica o sacerdote.
Confira os encontros:
1º Encontro - Criados por um Pai Misericordioso
2º Encontro - Criados na Misericórdia e para Misericórdia
3º Encontro - Procurados pela Misericórdia
4º Encontro - Família e Igreja, lugares da Misericórdia
5º Encontro - O perdão na Família– Fonte de reconciliação e libertação
6º Encontro - As obras de misericórdia na família e da família
7º Encontro - A família promotora da misericórdia na sociedade
Semana Nacional
O "Hora da Família" 2016 está em sintonia com a Semana Nacional da Família, que acontece de 14 a 21 de agosto, em todas as comunidades do Brasil. O subsídio apresenta reflexão sobre temas familiares, oferecendo roteiros de orações e cantos para motivar a atividade.
Como adquirir
O subsídio "Hora da Família" é distribuído pela Secretaria Executiva Nacional da Pastoral Familiar – SECREN. Encomendas podem ser feitas pelo telefone (61) 3443-2900, ou pelo e-mail vendas@cnpf.org.br O material também é distribuído pelos casais coordenadores e agentes da Pastoral Familiar nos regionais e dioceses.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

«Comunicação e Misericórdia: um encontro fecundo»

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE PAPA FRANCISCO
PARA O 50º DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS

«Comunicação e Misericórdia: um encontro fecundo»
[8 de Maio de 2016]

Queridos irmãos e irmãs!
O Ano Santo da Misericórdia convida-nos a refletir sobre a relação entre a comunicação e a misericórdia. Com efeito a Igreja unida a Cristo, encarnação viva de Deus Misericordioso, é chamada a viver a misericórdia como traço característico de todo o seu ser e agir. Aquilo que dizemos e o modo como o dizemos, cada palavra e cada gesto deveria poder expressar a compaixão, a ternura e o perdão de Deus para todos. O amor, por sua natureza, é comunicação: leva a abrir-se, não se isolando. E, se o nosso coração e os nossos gestos forem animados pela caridade, pelo amor divino, a nossa comunicação será portadora da força de Deus.
Como filhos de Deus, somos chamados a comunicar com todos, sem exclusão. Particularmente próprio da linguagem e das ações da Igreja é transmitir misericórdia, para tocar o coração das pessoas e sustentá-las no caminho rumo à plenitude daquela vida que Jesus Cristo, enviado pelo Pai, veio trazer a todos. Trata-se de acolher em nós mesmos e irradiar ao nosso redor o calor materno da Igreja, para que Jesus seja conhecido e amado; aquele calor que dá substância às palavras da fé e acende, na pregação e no testemunho, a «centelha» que os vivifica.
A comunicação tem o poder de criar pontes, favorecer o encontro e a inclusão, enriquecendo assim a sociedade. Como é bom ver pessoas esforçando-se por escolher cuidadosamente palavras e gestos para superar as incompreensões, curar a memória ferida e construir paz e harmonia. As palavras podem construir pontes entre as pessoas, as famílias, os grupos sociais, os povos. E isto acontece tanto no ambiente físico como no digital. Assim, palavras e ações hão-de ser tais que nos ajudem a sair dos círculos viciosos de condenações e vinganças que mantêm prisioneiros os indivíduos e as nações, expressando-se através de mensagens de ódio. Ao contrário, a palavra do cristão visa fazer crescer a comunhão e, mesmo quando deve com firmeza condenar o mal, procura não romper jamais o relacionamento e a comunicação.
Por isso, queria convidar todas as pessoas de boa vontade a redescobrirem o poder que a misericórdia tem de curar as relações dilaceradas e restaurar a paz e a harmonia entre as famílias e nas comunidades. Todos nós sabemos como velhas feridas e prolongados ressentimentos podem aprisionar as pessoas, impedindo-as de comunicar e reconciliar-se. E isto aplica-se também às relações entre os povos. Em todos estes casos, a misericórdia é capaz de implementar um novo modo de falar e dialogar, como se exprimiu muito eloquentemente Shakespeare: «A misericórdia não é uma obrigação. Desce do céu como o refrigério da chuva sobre a terra. É uma dupla bênção: abençoa quem a dá e quem a recebe» (O mercador de Veneza, Ato IV, Cena I).
É desejável que também a linguagem da política e da diplomacia se deixe inspirar pela misericórdia, que nunca dá nada por perdido. Faço apelo sobretudo àqueles que têm responsabilidades institucionais, políticas e de formação da opinião pública, para que estejam sempre vigilantes sobre o modo como se exprimem a respeito de quem pensa ou age de forma diferente e ainda de quem possa ter errado. É fácil ceder à tentação de explorar tais situações e, assim, alimentar as chamas da desconfiança, do medo, do ódio. Pelo contrário, é preciso coragem para orientar as pessoas em direção a processos de reconciliação, mas é precisamente tal audácia positiva e criativa que oferece verdadeiras soluções para conflitos antigos e a oportunidade de realizar uma paz duradoura. «Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. (...) Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 7.9).
Como gostaria que o nosso modo de comunicar e também o nosso serviço de pastores na Igreja nunca expressassem o orgulho soberbo do triunfo sobre um inimigo, nem humilhassem aqueles que a mentalidade do mundo considera perdedores e descartáveis! A misericórdia pode ajudar a mitigar as adversidades da vida e dar calor a quantos têm conhecido apenas a frieza do julgamento. Seja o estilo da nossa comunicação capaz de superar a lógica que separa nitidamente os pecadores dos justos. Podemos e devemos julgar situações de pecado – violência, corrupção, exploração, etc. –, mas não podemos julgar as pessoas, porque só Deus pode ler profundamente no coração delas. É nosso dever admoestar quem erra, denunciando a maldade e a injustiça de certos comportamentos, a fim de libertar as vítimas e levantar quem caiu. O Evangelho de João lembra-nos que «a verdade [nos] tornará livres» (Jo 8, 32). Em última análise, esta verdade é o próprio Cristo, cuja misericórdia repassada de mansidão constitui a medida do nosso modo de anunciar a verdade e condenar a injustiça. É nosso dever principal afirmar a verdade com amor (cf. Ef 4, 15). Só palavras pronunciadas com amor e acompanhadas por mansidão e misericórdia tocam os nossos corações de pecadores. Palavras e gestos duros ou moralistas correm o risco de alienar ainda mais aqueles que queríamos levar à conversão e à liberdade, reforçando o seu sentido de negação e defesa.
Alguns pensam que uma visão da sociedade enraizada na misericórdia seja injustificadamente idealista ou excessivamente indulgente. Mas tentemos voltar com o pensamento às nossas primeiras experiências de relação no seio da família. Os pais amavam-nos e apreciavam-nos mais pelo que somos do que pelas nossas capacidades e os nossos sucessos. Naturalmente os pais querem o melhor para os seus filhos, mas o seu amor nunca esteve condicionado à obtenção dos objetivos. A casa paterna é o lugar onde sempre és bem-vindo (cf. Lc 15, 11-32). Gostaria de encorajar a todos a pensar a sociedade humana não como um espaço onde estranhos competem e procuram prevalecer, mas antes como uma casa ou uma família onde a porta está sempre aberta e se procura aceitar uns aos outros.
Para isso é fundamental escutar. Comunicar significa partilhar, e a partilha exige a escuta, o acolhimento. Escutar é muito mais do que ouvir. Ouvir diz respeito ao âmbito da informação; escutar, ao invés, refere-se ao âmbito da comunicação e requer a proximidade. A escuta permite-nos assumir a atitude justa, saindo da tranquila condição de espectadores, usuários, consumidores. Escutar significa também ser capaz de compartilhar questões e dúvidas, caminhar lado a lado, libertar-se de qualquer presunção de omnipotência e colocar, humildemente, as próprias capacidades e dons ao serviço do bem comum.
Escutar nunca é fácil. Às vezes é mais cómodo fingir-se de surdo. Escutar significa prestar atenção, ter desejo de compreender, dar valor, respeitar, guardar a palavra alheia. Na escuta, consuma-se uma espécie de martírio, um sacrifício de nós mesmos em que se renova o gesto sacro realizado por Moisés diante da sarça-ardente: descalçar as sandálias na «terra santa» do encontro com o outro que me fala (cf. Ex 3, 5). Saber escutar é uma graça imensa, é um dom que é preciso implorar e depois exercitar-se a praticá-lo.
Também e-mails, sms, redes sociais, chat podem ser formas de comunicação plenamente humanas. Não é a tecnologia que determina se a comunicação é autêntica ou não, mas o coração do homem e a sua capacidade de fazer bom uso dos meios ao seu dispor. As redes sociais são capazes de favorecer as relações e promover o bem da sociedade, mas podem também levar a uma maior polarização e divisão entre as pessoas e os grupos. O ambiente digital é uma praça, um lugar de encontro, onde é possível acariciar ou ferir, realizar uma discussão proveitosa ou um linchamento moral. Rezo para que o Ano Jubilar, vivido na misericórdia, «nos torne mais abertos ao diálogo, para melhor nos conhecermos e compreendermos; elimine todas as formas de fechamento e desprezo e expulse todas as formas de violência e discriminação» (Misericordiae Vultus, 23). Em rede, também se constrói uma verdadeira cidadania. O acesso às redes digitais implica uma responsabilidade pelo outro, que não vemos mas é real, tem a sua dignidade que deve ser respeitada. A rede pode ser bem utilizada para fazer crescer uma sociedade sadia e aberta à partilha.
A comunicação, os seus lugares e os seus instrumentos permitiram um alargamento de horizontes para muitas pessoas. Isto é um dom de Deus, e também uma grande responsabilidade. Gosto de definir este poder da comunicação como «proximidade». O encontro entre a comunicação e a misericórdia é fecundo na medida em que gerar uma proximidade que cuida, conforta, cura, acompanha e faz festa. Num mundo dividido, fragmentado, polarizado, comunicar com misericórdia significa contribuir para a boa, livre e solidária proximidade entre os filhos de Deus e irmãos em humanidade.
Vaticano, 24 de Janeiro de 2016.
Franciscus

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